Iniciativa ofereceu oficinas de capoeira, maculelê, puxada de rede e musicalidade
Por Catarina Loiola, da Agência Brasília | Edição: Carolina Caraballo

Projeto Identidade Nagô oferece oficinas de capoeira, maculelê, puxada de rede e musicalidade para crianças a partir de 6 anos | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília
Patrimônio cultural imaterial da humanidade, a capoeira ganhou destaque na Escola Classe Aspalha, no Lago Norte. Durante quatro meses, o projeto Identidade Nagô ofereceu oficinas de capoeira, maculelê, puxada de rede e musicalidade para crianças a partir de 6 anos.
A iniciativa é da União da Capoeira do Distrito Federal (UCDF), com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF). A cada semana, os alunos mergulharam em histórias, cantos e movimentos que reforçam a identidade afro-brasileira como parte da formação do povo brasileiro, aprendendo sobre ancestralidade e cidadania. Diante do sucesso da primeira edição, haverá um segundo ciclo de oficinas, iniciado ainda neste mês. “Quando a escola recebe cultura, quem ganha são os estudantes. Eles aprendem dentro e fora da sala de aula, e isso enriquece todo o processo pedagógico”, afirma a diretora, Juliana Pereira.

Ao longo de quatro meses, alunos da Escola Classe Aspalha mergulharam em histórias, cantos e movimentos que reforçam a identidade afro-brasileira
De acordo com a gestora, o projeto dialoga com o compromisso da unidade em promover uma educação integral e antirracista. “Os estudantes passaram por uma sensibilização desde o início do ano sobre a nossa formação enquanto povo cultural, com as raízes que vieram da África que formaram o povo brasileiro”, explica. “É uma forma da criança perceber a influência africana na formação do Brasil. Trabalhamos a autoestima, a valorização da diversidade e desmistificamos preconceitos ainda associados à capoeira”.
A proposta incluiu diferentes vertentes da arte-luta, como angola, regional e contemporânea, além de danças populares, como jongo e coco de embolada. “Queremos oferecer uma experiência imersiva. A capoeira é patrimônio da humanidade e uma ferramenta educacional, cultural e social que abraça todos os públicos”, salienta o coordenador do projeto, Eduardo Coelho Segovia, conhecido como Mestre Foca.
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Em compromisso com a inclusão social, a iniciativa teve interpretação em Libras e materiais em Braille para estudantes cegos e com baixa visão. “Além disso, um dos nossos professores tem artrite reumatoide severa, que limita os movimentos das mãos e dos pés, mas não impede que ele compartilhe o conhecimento que adquiriu em mais de 40 anos. Mostra que a arte afro-brasileira é, realmente, uma arte sem limites”, revelou o
Mestre Foca.
No encerramento dos encontros, os alunos participantes mostraram a outras turmas a potência do que aprenderam, com direito a apresentação de maculelê, roda de dança e bate-papo sobre as origens das expressões culturais. As amigas Ana Júlia Mota, 10 anos, e Júlia Jacomini, também 10, foram escolhidas para contar a história do Mestre Bimba, responsável por criar a primeira escola de capoeira no Brasil, em 1932, localizada em Salvador.
No texto, as meninas ressaltaram a importância dos saberes do mestre para a valorização e fortalecimento da cultura afro-brasileira. “Foi uma experiência maravilhosa; poucas pessoas têm oportunidade de ter capoeira na escola, uma atividade originada pelos africanos e que faz parte da nossa cultura”, comentou Ana Júlia. Para Júlia, a melhor parte foi aprender os movimentos da dança e ter uma atividade diferente no dia a dia. “Gosto de artes diferentes e achei bem divertido, superlegal, uma coisa única de um continente diferente”, disse.

Renan de Castro, estudante: “Aprendemos várias coisas, vários golpes, tivemos muitas atividades. O ruim é que acabou hoje”
O estudante Renan de Castro, 10, se divertiu tanto durante as oficinas e apresentações que, se dependesse dele, seriam permanentes. “Aprendemos várias coisas, vários golpes, tivemos muitas atividades. O ruim é que acabou hoje”, desabafou no encontro final. “Gostei muito de aprender sobre a nossa cultura”.Localizada no Núcleo Rural Vale do Palha, a escola recebe 240 estudantes a partir dos 6 anos em período integral, nos anos iniciais do ensino fundamental. Além do Identidade Nagô, a instituição conta com outras ações sobre ancestralidade.
Entre elas, o projeto Ubuntu, Juntos Somos Mais Fortes utiliza a fotografia para fortalecer a identidade das crianças e incentivar a expressão artística, com atividades desde a concepção até a revelação de uma fotografia.